“Projeto Guamá” é um desdobramento de “Symbiosis”, série que desde 2007 investiga a relação intrínseca entre homem e natureza no território e tem autoria da artista visual Roberta Carvalho.
Gigantes da Amazônia, as árvores ganham olhos, boca e feições caboclas a partir de um projeto repleto de significados. O que parece folclore vindo dos encantados da floresta pôde ser visto ao longo do rio Guamá, que margeia Belém, capital do Pará.
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As imagens foram exibidas no dia 22 e retratam os ribeirinhos amazônicos, moradores da ilha do Combu, Murutucu e outras localidades que compõe a parte insular de Belém, formada por mais de 40 ilhas.
Em cada rosto, como o de dona Raimunda, o espetáculo reconhece o valor de quem ajuda a manter a floresta em pé e colabora com o bem estar de quem vive nas cidades.
“Se a gente não preservar a natureza do que nós vamos viver? Porque é a natureza que nos dá água, que nos dá vida, porque é ela que dá alimento pra nós”, diz a ribeirinha Raimunda da Silva.
A projeção digital se dá nas copas de árvores e sobre o rio, misturando a um só tempo intervenção urbana, fotografia, vídeo digital e instalação.
“Ao ocupar as margens dos rios com arte, busco criar uma narrativa imersiva que conte histórias das tantas Amazônias que somos, transbordando de cultura e biodiversidade. A escala das imagens visa envolver o público de maneira mais profunda, conectando-se com a grandiosidade da paisagem amazônica”, diz a artista visual Roberta Carvalho, idealizadora do projeto.Reproduzir vídeo
Projeção flutuante na floresta em Belém mostra a importância dos ribeirinhos
Além das imagens produzidas por Roberta, foram projetas fotografias e vídeos feitos por ribeirinhos que participaram de dois dias de oficinas gratuitas realizadas pelo projeto na ilha do Combu. A proposta é criar interlocução com jovens e adultos da região das ilhas de Belém, para além das intervenções artísticas, e é instrumentalizar o público para utilização de novas tecnologias.
Projeção Ribeirinhos — Foto: TV Liberal – Reprodução
Segundo Roberta Carvalho, o projeto, chamado de “Guamá”, foi construído por meio de um processo colaborativo e horizontal, onde as vozes e perspectivas das comunidades foram consideradas desde o início.
“A importância dessa abordagem horizontal reside em promover autonomia e fortalecimento das comunidades, garantindo que elas não sejam apenas destinatárias, mas participantes ativas do processo de construção. A horizontalidade também fomenta um ambiente de confiança mútua, essencial para que possamos nos desenvolver com saúde e sustentabilidade a longo prazo”.
“Guamá” é um desdobramento de “Symbiosis”, série que desde 2007 investiga a relação intrínseca entre homem e natureza no território.
Projeção Ribeirinhos 1 — Foto: TV Liberal – Reprodução
Simbiose é um termo da ecologia que designa uma relação entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes, nos quais ambos têm ganhos nesta relação. São dois entes: imagem e natureza, sendo a natureza hospedeira da arte, criando com ela um novo ser, um uno. E desta relação uma coisa outra é gerada: escultura de luz, uma árvore observadora.
“A proposta deste projeto vai muito além da utilização da natureza como um anteparo para uma imagem, e leva ao extremo o nome que o designa, propõe-se a fazer uma simbiose com o local onde transita. É o corpo se adequando ao espaço da natureza, para com ela formar um só organismo, em uma delicada relação simbiótica e simbólica que suscita reflexões acerca da nossa relação de identidade com a natureza e vice-versa”, diz Roberta Carvalho.
Projeção Ribeirinhos 3 — Foto: TV Liberal – Reprodução
Para a extrativista Aldelina Oliveira, o projeto “Guamá” possibilita muitas interpretações.
“O que eu sinto quando eu vejo as imagens? É que a gente tá conseguindo, aos pouquinhos, mostrar pro mundo o nosso modo de viver e o nosso pensar diferente, que a natureza é tudo”, afirma.
Tecnologia audiovisual na floresta
Um dos nomes mais profícuos de arte e tecnologia do Brasil e destaque internacional, Roberta Carvalho assinou a direção artística do projeto Pororoca, que ocupou a Times Squire, em Nova York, com programação cultural em defesa da Amazônia durante a Semana do Clima de 2023. Assinou também o projeto artístico do projeto Nave de 2022, no Rock In Rio, o maior festival de música do mundo, e mostrou que a Amazônia é ancestral, mas também é tecnológica. A um só tempo, floresta e metrópole.
No projeto Guamá, a proposta de democratizar a tecnologia como ferramenta de empoderamento e produção de arte foi levada até as comunidades ribeirinhas por meio de duas oficinas gratuitas. Uma delas ministrada por Felipe Marujos, ribeirinho e comunicador, publicitário e porta-voz da floresta. Ele falou aos participantes sobre o uso do celular e das redes sociais como ferramentas de empoderamento social e cultural.
A segunda oficina foi ministrada com Roberta Carvalho, Lucas Negrão e Lorena Rodrigues, artistas multimídias, e versaram sobre “A projeção de imagem em simbiose com o espaço” e “Fotografia e vídeo com uso de celular”.
“Ao utilizar a tecnologia de maneira sensível e colaborativa, é possível criar combinações entre conhecimentos tradicionais e contemporâneos, tecnologia e ancestralidade. Além disso, essa integração pode abrir portas para o compartilhamento de histórias e saberes, contribuindo para uma compreensão mais ampla e respeitosa entre as nossas diferentes culturas amazônicas”, diz Roberta.
g1 Pará — Belém